2 de ago. de 2012

Like a Rolling Stone


Nos primeiros quatro meses de 1965, Bob Dylan atravessou toda a região nordeste dos Estados Unidos de ônibus, tocando em colégios e grandes arenas. Depois, rodou toda a costa Oeste para promover seu novo álbum... Quando desembarcou em Londres, parecia um morto-vivo. As unhas amarelas por causa da nicotina, as olheiras moldando seu rosto cadavérico, a pele descamando. Seja por conta do efeito das drogas que ingeria ou das pílulas para dormir, Dylan padecia de uma profunda depressão.


Nos shows, tudo parecia mecânico: as músicas que tocava não lhe pertenciam mais; parecia que não haviam sido compostas por ele. Estava sempre aparentando pressa para o concerto acabar logo e sumir do palco. Era insuportável se ouvir. Blowin’  in the wind lhe provocava, literalmente, ataques de pânico! Ele decidiu, então, abandonar tudo. Viajou para Nova York e, de lá, partiu como um verdadeiro mochileiro para Woodstock, decidido a nunca mais compôr.

“Eu definitivamente creio  que  ‘Like a Rolling Stone’ não poderia ter surgido de outra forma…”

Transcendental! Talvez esse seja o adjetivo mais apropriado para aquele que, se não foi o maior, certamente foi o mais emblemático sucesso da carreira de Bob Dylan. Uma amostra do que chamamos de ‘insight’ e o case muito bem escolhido por Jonah Lehrer para introduzir seu “Imagine – How Creativity Works”. Colaborador da Wired e da New Yorker, Lehrer defende em sua obra que a criatividade não é um dom e não se situa no terreno da metafísica, muito pelo contrário, ela é uma habilidade que ele se propõe a esmiuçar.


Há, segundo ele, uma lógica por traz de todo processo criativo.  E  o primeiro passo é a ruptura, como aconteceu com Dylan. É ela que dá margem a uma mudança de perspectiva que Lehrer apregoa ao hemisfério direito do cérebro. Segundo ele, essa é a região da ‘conotação’, ou seja, aquela que enxerga o entorno, o contexto – não a árvore, mas a floresta; em contraposição ao hemisfério esquerdo do cérebro, responsável pela denotação, que se resume à mera descrição do que vemos.

Para sermos mais criativos, precisamos exercitar o hemisfério direito do cérebro. Considere esse clássico:

“Marsha e Marjorie nasceram no mesmo dia do mesmo mês do mesmo ano e são filhas do mesmo pai e da mesma mãe. Ainda assim não são gêmeas. Como isso é possível?”  (1)

Ou ainda:

“ Rearranje as letras n-e-w-d-o-o-r em uma única palavra” (2)

Outro belo case resgatado por Lehrer em sua obra é o da 3M que teria, segundo ele, sido pioneira na estratégia de permitir que seus colaboradores realizem atividades consideradas, à primeira vista, improdutivas no ambiente de trabalho, como jogar sinuca ou dar uma volta de skate – “... é curioso notar que muitas pessoas acham que o Google criou isso”. Além dos emblemáticos post-its, a companhia americana possui um portfolio de 55 mil patentes desenvolvidas para as mais diversas aplicações. “Nós somos uma empresa incomum. Não temos um nicho ou um foco particular. Basicamente, tudo o que fazemos são coisas novas. Não importa realmente que tipo de coisas são essas”, afirma Larry Wendling, vice-presidente de pesquisas da 3M.


A chave aqui é o relaxamento do cérebro. “Não é um acaso o fato de muitos insights acontecerem durante um rotineiro banho quente. Para muitas pessoas, essa é a hora mais relaxante do dia”, comenta Jonah Lehhrer.

É senso comum que a concentração e o foco são prioritários para um bom rendimento, contudo essas prerrogativas se constituem na verdade em grandes obstáculos para a criatividade. Experimente, enfim, observar o que está diante de você. O que você vê? Um texto na tela do computador? Um reflexo de si mesmo? Se a sua resposta foi a primeira alternativa, seria bom desligar a máquina por alguns instantes... E aí:

“ How does it feel
To be without a home
Like a complete unknown
Like a rolling stone?”

·         (1) Trigêmeas
·         (2)One word

Um comentário:

  1. Acabei de ser informado por meio da colega Catherina Gazzoni que o escritor acaba de confessar que as citações de Bob Dylan foram inventadas e não correspondem a realidade. Lamentável!

    Confira mais aqui: http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/comportamento/noticias/jornalista-sai-da-new-yorker-apos-criar-declaracoes-de-dylan

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