13 de mar. de 2009


Ele é simples, gostoso de ler e fácil de carregar. Além de tudo, vende muito. Não se trata de um novo livro, e sim de seu celular. Depois da fotografia, da internet e da música, chegou a vez de a literatura invadir a telefonia móvel, na forma e velocidade de um torpedo. A ideia é um sucesso vindo do Japão. Os “romances de celular” (em japonês, keitai shosetsu) fizeram cinco em cada dez best-sellers do país em 2007. Foram temas de mangás, filmes e telenovelas.



A nova modalidade literária não dá espaço para Josés Saramagos, Mias Coutos e assemelhados. As frases são curtas, os textos não passam de 120 caracteres. O fenômeno pegou entre as adolescentes, que escreviam anonimamente sobre suas experiências. Os capítulos eram curtos e podiam ser acessados por celular. As confidências viraram febre entre as garotas. Apesar disso, o primeiro romance de celular foi criado por um homem. Em 2000, um rapaz de codinome Yoshi, de Tóquio, passou a observar os estilos de vida de jovens em seu bairro. Teve então a ideia de escrever Deep Love (Amor Profundo), um romance sobre o dia a dia de jovens em Tóquio, e publicá-lo num site para celular. Nove anos depois, o Japão já tem mais de 1 milhão de textos desse tipo só no maior site, o Maho i-Land.

A fama do keitai shosetsu no Japão se deve a três fatores. O primeiro é a popularidade do celular. Uma pesquisa publicada pelo Grupo de Trabalho para o Resgate da Educação do Japão diz que 31% das crianças do 1º ao 6º ano de escolaridade e 58% das que estão entre o 7º e o 9º ano usam o aparelho.



Ao contrário do que se possa imaginar, O keitai shosetsu não é uma ameaça ao livro. Talvez seja mesmo uma ajuda: em 2007, mais de 90 livros japoneses nasceram no celular, inclusive os três primeiros na lista de best-sellers, com vendas conjuntas de 2,6 milhões de cópias. Se a leitura em SMS suprimisse a vontade de folhear um livro (e o ritual que isso envolve), eles não migrariam para as livrarias.

A onda ainda é muito restrita no país, mas tem tudo para estourar. O mais recente relatório da Anatel mostrou que há no país sete celulares para cada dez habitantes. Na pesquisa Retratos da Leitura do Brasil de 2007, do Instituto Pró-Livro, a falta de tempo é apontada por 57% dos leitores como razão para não ler mais. Pouco dinheiro e dificuldade de acesso também estão entre os principais motivos. A literatura de celular aparece quase como resposta. É barata, móvel e não toma mais de dois minutos do leitor.
(Referência: Revista Época)

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