11 de fev. de 2009

"Não tenha pressa. Mas não perca tempo"
José Saramago


Era uma vez a Praça de Espanha, em Roma, Itália, berço da boa culinária. Em meados dos anos 80, para espanto de todos, surge no horizonte os arcos dourados de mais uma loja McDonald's. A inauguração gera reações que repercutem internacionalmente.

Inconformado, o italiano Carlo Petrini cria o Slow Food, uma associação cujo objetivo é valorizar culturalmente os alimentos e o prazer de comer bem e, dessa forma, fazer frente à dominação dos fast foods. Mais do que se opor ao paradigma da velocidade, o Slow Food defende um novo conceito de qualidade, que leva em conta não apenas o sabor, mas também como e por quem o alimento é produzido.


Em 1989, delegações de todo o mundo encontraram-se na Opéra Comique, em Paris, para aprovar o Manifesto Slow Food, onde afirmam: "Deixem-nos redescobrir o sabor e o aroma da cozinha regional e banir o efeito degradante do fast food. Em nome da produtividade, a vida rápida mudou nosso jeito de viver, nossa intimidade com o meio ambiente e com a terra". Surgiu aí o símbolo do movimento - o caracol, que devagar, como sabemos, vai ao longe.

O Slow Food cresceu. Hoje são mais de oitenta mil sócios em 135 países. O movimento tem dois grandes eventos mundiais por ano: o Terra Madre e o Salone del Gusto. Ambos acontecem no mês de outubro, na Itália, reunindo comunidades do alimento, chefs de cozinha, docentes e jovens de todo o mundo - pessoas envolvidas com produção, pesquisa, consumo e demais etapas da cadeia de alimentos sustentáveis de 153 diferentes países.

Umbu, produto brasileiro que faz parte da Arca dos Gostos

No Brasil, o movimento tem um portal e um blog, onde é possível encontrar dados sobre os produtos nacionais presentes na famosa Arca dos Gostos (catálogo mundial que identifica, localiza, descreve e divulga sabores quase esquecidos de produtos ameaçados de extinção, mas ainda vivos, com potenciais produtivos e comerciais reais) e a relação dos Convivium (grupos locais que articulam relações com os produtores, fazem campanhas para proteger alimentos tradicionais, organizam degustações e palestras, encorajam os chefs a usar alimentos regionais, indicam produtores para participar em eventos internacionais e lutam para levar a educação do gosto às escolas).

O termo slow, por sua vez, ganhou autonomia e virou tendência. Do Japão à Holanda, dos Estados Unidos à Noruega, surgiram vários movimentos, tais quais:

- slow città - cidades comprometidas em se proteger da loucura veloz que adoece as grandes cidades. Ex: cidade italiana de Bra, no Piemonte;


- slow design - preocupação em produzir artigos que durem e sejam atemporais;

- slow travel - filosofia que identifica a pressa como a maior inimiga das viagens perfeitas;

- slow home - o movimento vem buscando conscientizar as pessoas a criar bairros e casas saudáveis. Apela para o fim das más construções, do mau design, do marketing enganoso, das práticas desleais de empréstimos e de negligências ambientais no setor da habitação;

- slow money - filosofia que prega o investimento na comunidade, ações de sustentabilidade e responsabilidade social;


A última derivação do movimento que se tem notícia é o slow blogging, tema de uma reportagem no New York Times, que é uma frente que combate os blogs de notícias que publicam 50 posts por dia, tal qual um restaurante de fast food. Os que praticam o slow blogging atualizam suas páginas de uma maneira mais contida, publicam pensamentos e ensaios, ou seja, blogagem lenta, sem pressa e sem estresse.

Nem tanto ao mar nem tanto a terra, mas é de se pensar, devargazim, como diria um bom mineiro...

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